sábado, 23 de dezembro de 2023

A ORIGEM DO KISHU RYU KARATE

 


A Origem do Kishu Ryu Karate:

O Kishu Ryu Karate foi fundado em 19 de março de 2001 pelo Sensei Milton Silva, um praticante experiente de vários estilos de Karate. Sua motivação para criar um novo estilo surgiu da busca por uma abordagem mais próxima das tradições antigas do Karate antigo de Okinawa e do Kenpo chinês ancestral do Karate, coisa não muito comum na época, onde era mais difundida a forma moderna do Karate. Desiludido com o foco excessivo em competições por pontos, onde nem sempre o melhor contendente vencia e buscando uma expressão mais efetiva para defesa pessoal dos praticantes e holística das artes marciais, Sensei Milton Silva dedicou-se a estudar diferentes estilos de Karate, chegando a estudar com diferentes mestres. Incorporando o que haviam de melhor no seu estilo pessoal, o Kishu Ryu Karate.

Principais Aspectos dos Estilos de Karatê Mencionados:

1.    Shotokan:

·         Ênfase em Kihon (técnicas básicas) e kata (formas).

·         Posturas profundas para promover estabilidade e potência em nossos movimentos.

2.    Goju Ryu:

·         Incorporação de técnicas circulares e movimentos fluidos.

·         Ênfase na respiração controlada, como no kata Sanchin.

3.    Shorin Ryu:

·         Utilização de movimentos rápidos e ágeis.

·         Abordagem equilibrada entre técnicas de mão e pé.

4.    Shito Ryu:

·         Síntese de Shuri-Te e Naha-Te, resultando em uma variedade de técnicas.

·         Etapa na execução precisa de katas.

5.    Kyokushin:

·         Treinamento físico intensivo, incluindo sparing de contato total.

·         Ênfase na força, resistência e coragem.

6.    Isshin Ryu:

·         Inclusão de técnicas de Okinawa-te e influências do kung fu chinês.

·         Uso de posturas elevadas e movimentos diretos.

7.    Uechi Ryu:

·         Incorporação de técnicas de kung fu chinês, especialmente do estilo Pangai-noon.

·         Ênfase na resistência física e técnicas compactas.

Filosofia do Kishu Ryu Karate:

O Kishu Ryu Karate se distingue pela integração de elementos eficazes de diferentes estilos, com foco na tradição do Kenpo chinês e uma abordagem equilibrada entre a prática física, mental e espiritual. A filosofia inclui valores como respeito, autodisciplina e a busca constante pela efetividade nas artes marciais.

Desenvolvimento e Legado:

O Kishu Ryu Karate, desde sua fundação, cresceu como uma escola de Karate única, atraindo praticantes que se unem à visão do Sensei Milton Silva. O legado da escola é moldado pela dedicação à evolução constante, integração de tradições e a busca de um caminho mais significativo nas artes marciais.

FELIZ NATAL A TODOS

 


DESEJAMOS UM FELIZ NATAL A TODOS. DE TODA DIRETORIA DO KISHU RYU KARATE BRASIL.

NOSSO ÚLTIMO TREINO DO ANO DE 2023


 

domingo, 2 de abril de 2023

CAMINHO DAS MÃOS VAZIAS

 


Os esforços de Itosu, a despeito de não gerarem os efeitos almejados, frutificaram nas mãos de seus alunos. Por exemplo, o Mestre Kenwa Mabuni, como forma de tributo, sistematizou todos os ensinamentos aprendidos no estilo Shito-ryu, que pretende fundir os estilos Shuri-te e Naha-te e com isso veio a preservar muitas variações de kata; o Mestre Choshin Chibana, em seu tempo, compilou seu conhecimento no estilo Kobayashi-ryu, pretendendo preservar as exatas formas por ele aprendidas de Matsumura e Itosu.

 

Entretanto, aproveitando o interesse no Karate, principalmente depois da vitória do mestre Choki Motobu sobre o lutador russo, coube a Gichin Funakoshi lograr grande êxito no objetivo do mestre Itosu, isto é, difundir o Karate como desporto e nativo da cultura japonesa. Fundamental também foi o empenho de outros grandes mestres, como Mabuni, Miyagi, Motobu etc., que não podem ser considerados no arrabalde. Esses esforços não podem ser olvidados porque criaram a ambiência em que Funakoshi logrou êxito em difundir o Karate pelo arquipélago japonês. As técnicas do estilo iniciado por Funakoshi baseiam-se no Karate de Itosu, mas dando mais ênfase ao aspecto formativo da personalidade, característica que ficou impressa nas demais linhagens surgidas naquele momento.

 

A divulgação não aconteceu sem resistência. A despeito de vários pedidos para a não exibição de vários mestres que não viam com bons olhos o movimento, Funakoshi levou o Karate até o sistema público de ensino, com a ajuda de seu mestre Anko Itosu e, em pouco tempo, a arte marcial já fazia parte do currículo escolar como disciplina físico-esportiva, dando um impulso extraordinariamente grande, com o Karate sendo praticado em vários locais e sendo bastante apreciado e valorizado localmente.

 

Entre 1902 e 1915, Sensei Funakoshi viajou com seus melhores alunos por toda Okinawa realizando demonstrações públicas de Karate e calhou de o inspetor de Educação do conselho, Shintaro Ogawa, estava particularmente interessado no processo seletivo para ingresso nas forças armadas, preocupado em obter um bom grupo, composto por jovens de boas índoles (valores) e boa compleição. Ogawa ficou impressionado, que escreveu ao continente dando as novas.

 

Sucedeu de o almirante Rokuro Yashiro assistir a uma daquelas demonstrações, explicadas por Funakoshi, enquanto seus alunos executavam kata, quebravam telhas e faziam outras proezas, que expunham a eficácia do condicionamento físico. O almirante ficou muito impressionado e ordenou que seus homens que iniciassem o treinamento de imediato. Sucedeu também de, em 1912, a comando de o Almirante Dewa escolher doze de seus homens para treinarem Karate por uma semana, enquanto estivessem ancorados nas imediações. As novas levadas por esses dois oficiais levaram o Karate a ser mais comentado no Japão.

 

E no desenrolar dos acontecimentos, calhou de, em 1921, o então príncipe herdeiro e futuro imperador Hirohito assistiu a uma dessas demonstrações, pelo que ficou admirado e pediu a feitura de um evento nacional em Tóquio, realizado em 1922. O evento foi muito bem sucedido e ocasionou de o mestre Funakoshi ser coberto de convites para apresentar sua arte e um desses convites foi feito por Jigoro Kano, para ser feito no instituto Kodokan.

 

Durante o evento, que levantou a plateia, mestre Funakoshi foi convencido a permanecer no Japão e, com a ajuda de Jigoro Kano, de que se tornou amigo íntimo, o Karate foi difundido.

 

O mestre sabia que haveria de surgir enorme oposição, haja vista que naquele período da história das relações entre Japão e China não era dos melhores. Ainda era muito recente a lembrança da Primeira Guerra Sino-Japonesa (1894–1895). E até o fim da Segunda Guerra Mundial e da Segunda Guerra Sino-Japonesa, com a rendição do Japão perante os Aliados, ocorreram vários incidentes belicosos.

 

Tais circunstâncias levavam à conclusão de que uma arte marcial de origem chinesa seria certamente repudiada, pelo que a mudança da arte para o 空手道 - Karate-Do (caminho das mãos vazias), isto é, com o acréscimo do sufixo “Do”, como se deu com muitas das artes marciais praticadas no Japão. A partícula do significa caminho, palavra que é análoga ao familiar conceito de Tao. Daí que o Karate deixou de ser encarado apenas em seu aspecto técnico, ou Jutsu, para serem realçados o filosófico e o físico (educacional).

 

Por outro lado, o Karate beneficiou-se de uma perspectiva que existia, a de que a luta nativa de Okinawa, aí incluso o seu Kobudo (manipulação de armas), era simplesmente uma forma de Jujutsu ou Koryu. Assim se pensava porque tanto os vários estilos de Jujutsu (a exemplo de Takenouchi-ryu, Daito-ryu etc.) japoneses quanto o Okinawa valiam-se das mesmas formas técnicas (luta desarmada, principalmente), diferenciando-se apenas no foco e no treinamento, ou seja, nada de estranho, se comparado à tradição Samurai. Denominava-se o Karate de Tejutsu, o que reforçava esse aspecto.

 

Entrementes, a proposição de Mestre Itosu, pela escrita do nome da arte marcial como Karate-Do foi objeto de debate em 1936, e mestres na época acordaram que seria a melhor escolha, o que refletira a unidade do Karate e sua originalidade, posto que houvesse sofrido diversas influências de fora.

Do modo como se desenvolveu, um elemento da cultura japonesa, o Karate  está imbuído de certos elementos do Zen-budismo, sendo que sua prática algumas vezes é chamada de "zen em movimento". As aulas frequentemente começam e terminam com curtos períodos de meditação. Também a repetição de movimentos, como a executada no kata, é consistente com a meditação zen pretendendo maximizar o autocontrole, a atenção, a força e velocidade, mesmo em condições adversas. A influência do zen nesta arte marcial depende muito da interpretação de cada instrutor.

Devido aos esforços de Funakoshi o Karate passou a ser ensinado nas universidades de Shoka, Takushoku, Waseda e Faculdade de Medicina.

 

A modernização e sistematização do Karate no Japão também incluiu a adoção do uniforme branco (Kimono ou Karate Gi) e de faixas coloridas indicadoras do estágio alcançado pelo aluno, ambos criados e popularizados por Jigoro Kano, fundador do judô.

 

As contribuições de Jigoro Kano não se limitam ao uniforme de treinamento e à padronização das graduações, mas vão até as técnicas, que foram compiladas dentro do estilo Shotokan. O conceito de do, posto que presente haja muito tempo, foi de certa forma reinterpretada segundo suas ideias.

 

Depois que Funakoshi demonstrou o Karate, outros mestres de Okinawa seguiram pela mesma trilha e se foram, no fito de conseguir novos alunos e divulgar ainda mais. Um daqueles mestres era Kenwa Mabuni, que se fixou em  Osaka e, no ano de 1931, criou a Dai-Nihon Karate-do Kai, para dar apoio a seu estilo, que foi registrado, primeiro como Hanko-ryu, e, depois, Shito-ryu.

 

Entrementes, somente durante a década de 1930 foi que a Associação Japonesa de Artes Marciais, Butoku-kai, reconheceu oficialmente o caratê como arte marcial nipônica e requereu que todas as escolas fizessem registro na entidade, exigindo para esse registro que cada uma delas indicasse os nomes de seus estilos.

 Em maio de 1949, alguns discípulos de Funakoshi criaram uma associação cujo escopo principal seria a promoção do caratê. O nome dado foi 日本 空手 協会 - Nihon Karate Kyokai (Japan Karate Association - JKA, Associação Japonesa de Karate), e o primeiro presidente foi Saigo Kichinosuke, membro da Câmara Alta do Japão, neto de Saigo Takamori (o ultimo samurai), um dos maiores heróis do Japão Meiji.

 

Durante a Segunda Guerra Mundial, o Karate tornou-se popular na Coreia do Sul sob os nomes Tangsudo ou Kongsudo quando a pratica do Tae-kwon-do foi proibida pelos japoneses após sua invasão.

 

Após a Segunda Guerra Mundial, o mestre Funakoshi com seus alunos conseguiram que o Ministério da Educação classificasse o Karate como educação física e não como arte marcial, tornando possível seu ensino, durante a ocupação do Japão. Depois dos Estados Unidos o caratê foi difundido pela Europa e o mundo.

 

ATUALIDADES

 

Posto que mestre Funakoshi pregasse que o Karate era uma arte marcial única, que as variações nas formas, nos estilos, deviam-se precipuamente às idiossincrasias e que jamais denominou sua linhagem de estilo, ainda durante sua existência e persistindo até os dias atuais, o que sucedeu foi uma proliferação de estilos, escolas e linhagens diferentes.

 

A grande variedade de estilos e escolas, se por um lado facilita essa disseminação, por outro, causou enormes dissensões e cisões entre entidades e representantes. Muitas vezes, o que motivou a cisão foram disputas políticas e/ou ideológicas.

 

Depois de criada por discípulos de Funakoshi, a quem aclamaram como líder, em 10 de abril de 1957, a JKA ganhou a condição de entidade oficial, mas, cerca de duas semanas depois, o grande mestre faleceu com a idade de 89.


A ARTE DAS MÃOS VAZIAS


Com Anko Itosu no fim do século XIX, o Karate ainda era treinado de modo forte por quem o ensinava, não havia, ponto que houvesse similaridades entre as técnicas, um padrão, o que dificultava sua maior aceitação fora de círculos restritos, porque era praticado e ensinado num rígido esquema de mestre/aluno.

 

Nesse meio tempo, sem perceber as altercações chinesas, o cenário político mudou porquanto da anexação final de Ryukyu, em 1875, por parte do Japão, fazendo com que o reino se transmutasse na província de Okinawa. Todavia, o que poderia ser o fim tornou-se uma oportunidade, pois terminou com o isolamento da população do arquipélago, incorporados de vez à população nipônica. Coube a Anko Itosu, um discípulo de Matsumura e secretário do rei de Okinawa, usar de sua influência para tentar popularizar a arte marcial.

 

O mestre via o Te não somente como arte marcial, mas, principalmente, como uma forma de desenvolver caráter, disciplina e físico das crianças. Ainda assim, o mestre julgava que os métodos utilizados até a época não eram práticos: o Te era ensinado basicamente por intermédio do treino repetitivo dos kata. Então, Itosu simplificou o treino com algumas mudanças fundamentais, os Kihon, que são as técnicas compreendidas em si mesmas, um soco, uma esquiva, uma base, e, além, compilou a série de Kata Pinan (Heian em algumas escolas) com técnicas mais simples e que passariam a formar o currículo introdutório da arte. A mudança resultou na diminuição, supressão em alguns casos, de táticas de luta, mas reforçou o caráter esportivo, para benefício da saúde: deu-se relevo a postura, mobilidade, flexibilidade, tensão, respiração e relaxamento.

 

Atribui-se ao mestre Itosu os primeiros movimentos no fito de promover a mudança de denominação para 空手 - Karate (mãos vazias), como forma de vencer as barreiras culturais, as resistências para aceitação, pois como algo com origem chinesa não era visto com bons olhos, ademais porque havia tensões latentes entres os dois países. Todavia, documentado é o fato de o mestre Hanashiro Chomo, numa publicação intitulada Karate Kumite, claramente referir-se à sua arte marcial como mãos vazias.

 

Em 1900, aconteceu uma grande demonstração do Karate aos ocidentais, quando o Havaí tinha sido anexado pelos Estados Unidos. Na época havia aproximadamente dois anos que isso tinha ocorrido.

 

O Karate tornou-se esporte oficialmente em 1902. Evento dramático no desenvolvimento do Karate que é o ponto em que se aperfeiçoa a transição de arte marcial para disciplina física, deixando ser visto apenas como meio de autodefesa.

 

Como resultado de seu progresso, Anko Itosu crê ser possível exportar o Karate para o resto do Japão e, em começos do século XX, passa a empreender esforços para tanto, mas não consegue lograr sucesso.

 

Paralelos a esses eventos, outro influente mestre, Kanryo Higashionna, promovia por si outras mudanças. Ele desenvolvia um estilo peculiar que mesclava técnicas suaves, evasivas e defensivas (como esquivas e projeções), e menos as rígidas, e tinha como discípulos Chojun Miyagi e Kenwa Mabuni. A exemplo de Itosu, Higashionna conseguiu fomentar os valores neles que levaram até as mudanças futuras que tornariam o Karate mais aceitável.

 

Em que pesem a evolução que arte estava experimentando e havendo a fama de ser um estilo de luta eficaz, fama essa que já havia muito corria pelo Japão, ainda era pouco conhecida. Não se sabia realmente muito sobre essa luta que muitas vezes matou pessoas, sobre suas características, fora os praticantes de Okinawa e alguns poucos fora desse círculo ainda pequeno e cerrado.

Em 1965 o Karate foi proibido no Brasil por ser uma arte que já matou duas pessoas que estavam lutando:

Francisco de Oliveira dos Santos e Maria Fernanda dos Campos.

 

Alguns fatores contribuíram, entretanto, para a divulgação do Karate. Um desses fatores era a mentalidade corrente à época que, mesmo com o processo de disseminação dos costumes ocidentais iniciado com a Restauração Meiji, ainda era muito apegada à figura do guerreiro, não sendo incomum o lance de desafios a lutadores proeminentes ou mesmo a uma casa, família ou Clã rival. Não se pode esquecer, contudo, que isso não se deva por bravata, mas por orgulho, de suas tradições e para homenagear seus mestres, resguardando-se a honra. Era comum a prática do Dojo Yaburi (desafio ao Dojo).

 

Certa altura, por volta de 1906 chegou a Okinawa uma praticante de Jujutsu (ou de judô, segundo algumas fontes) que desafiou a todos da ilha a medir forças com ele, para provar que seu estilo de combate era superior aos do Japão e da região. No dia aprazado, posto que fosse já um senhor (na casa dos setenta anos), no meio de vários lutadores, o mestre Itosu não quis deixar sem resposta o convite e foi ter com o desafiante, que interpelou o mestre, dizendo "que honra haveria de ganhar de um idoso?", mas aceitou o embate, por respeito ao nobre ancião. A luta foi decidida com apenas um golpe.

 

Marcante e decisivo, entretanto, foi um desafio que mestre Choki Motobu protagonizou. Chegou ao Japão um navio russo, conduzindo um lutador de sambo (chamado Jon Kirter), com porte físico avantajado (quase 2m de altura) e capaz de cravar um prego na madeira com as mãos. A intenção daquele lutador era divulgar sua modalidade de luta e, para tanto, além das demonstrações públicas, que envolviam proezas, como enrolarem uma barra de ferro nos braços e quebramentos, foi lançado um desafio a todo o país.

 

A nova correu até Okinawa, sendo o desafio aceito pelos irmãos Motobu, descendentes da casa real e notórios experts em artes marciais, além do Karate, Kobudo e Gotende. Dirigiram-se eles até o Japão. No dia da luta, tudo certo o embate foi decidido com apenas um golpe na região do plexo solar. A vitória foi considerada tão surpreendente que criou alvoroço e despertou de vez o interesse pelo Karate.

 

沖縄 - OKINAWA E A ARTE MARCIAL CHINESA


O arquipélago de Okinawa localiza-se quase que exatamente a meio caminho entre Japão e China, no Mar da China Oriental. Por causa de sua posição geográfica, a região sempre despertou a cobiça dos dois países, os quais não pouparam esforços para estenderem suas influências (culturais e econômicas), tornando a existência de um governo local submetida à conjugação de interesses e políticas externas. A influência chinesa era considerável, e alguns praticantes de artes marciais oriundos daquele país chegaram a Okinawa.

 

Apesar da circunstância de gravitar em torno da influência sino-japonesa, sucedeu na história de Okinawa, entre 1322 e 1429, um período denominado de 三山時代 - Sanzan-jidai (período dos três montes) quando que se digladiaram os três reinos de 北山 - Hokuzan (Monte Setentrional), 中山 - Chuzan (Monte Central) e 南山 - Nanzan (Monte Meridional) pelo controle da região. Tal período acabou com a unificação sob a bandeira do reino de Ryukyu e sob o comando de 中山 - Chuzan, que era o mais forte economicamente, inaugurando a primeira dinastia Sho: de Sho Hashi. Nessa época, influência chinesa consolidou-se como a mais predominante das duas e isso se refletiu na estrutura administrativa do reino e em outros aspectos culturais.

 

Após a unificação e no fito de conter eventuais sentimentos de revolta, o rei Sho Hashi promulgou um edital que tornou proibido o porte de quaisquer armas por parte da população civil. Este fato é considerado o marco principal do processo evolutivo que veio a culminar no desenvolvimento Karate, posto que já existisse em Okinawa uma arte marcial própria, a medida régia imposições um ritmo diferente, pelo que, devido à necessidade de as pessoas terem uma forma de defesa pessoal e em razão da proibição real, aquelas técnicas foram-se aperfeiçoando.

 

Fruto também da proibição do porte de armas foi o desenvolvimento do das técnicas do Kobudo, outra forma da arte marcial de Okinawa que transformou o uso de objetos do cotidiano em armas, como a Tonfa e o Nunchaku, por exemplo, que eram originalmente eram instrumentos de trabalho, para manuseio de moinho e debulhamento de arroz.

 

A sociedade japonesa, possuindo uma classe guerreira, era há muito conhecedora de disciplinas de combates com e sem armas. No seio das famílias e/ou clãs fomentaram-se formas de combate, os chamados Koryu, transmitidos somente internamente. Entretanto, o que importa é que houve certa troca de conhecimentos, posto que muito velada, e que essas artes evoluíram para atender exatamente às necessidades dos grupos que as usavam.

 

Essa peculiaridade, de existir uma classe nobre guerreira, impingiu à nascente arte do Karate um carácter subalterno, de exórdio, pois se desenvolveu precipuamente nas camadas mais pobres da população, que sobreviviam de atividades agrícolas e de pesca, haja vista que as classes de guerreiros, tal e qual sucedia na China e Japão, não difundiam suas disciplinas de combate fora de seu estreito círculo. De qualquer modo, a classe guerreira (existente em Okinawa, eram os Peichin, uma classe guerreira muito semelhante aos Samurais) que acabou por se render às técnicas de luta desarmada.

 

O que viria a ser o Jujutsu japonês (não Jiu Jitsu) surgiu para capacitar o Samurai para a luta desarmada, mas usando armadura, pelo que não era racional utilizar ostensivamente de pontapés e socos, mas sim projeções e estrangulamentos. Por conseguinte, o que se desenvolveu em Ryukyu visava justamente ao combate desarmado, que se poderia dar em qualquer lugar sem que os contendores estivessem a usar um traje específico para isso, mas poderia coincidir de se enfrentar guerreiros com armadura, pelo que socos e pontapés eram menos interessantes, isso aliado ao condicionamento de mãos e pés para serem instrumentos de ataques fulminantes.

 

A independência do reino de Ryukyu sofreu duro golpe quando, em 1609, quando o clã Samurai de Satsuma, com aprovação do imperador do Japão, subjugou o arquipélago. Por ocasião da invasão, os samurais encontraram pouco ou nenhuma resistência, porque, dadas as circunstâncias, o rei declarou que a vida é o mais importante tesouro e recomendou que a população das ilhas não revidasse à agressão estrangeira. Okinawa passou a ser um estado tributário do Japão e da China, mas, contrário ao cenário anterior, com predomínio nipônico, que expôs a cultura local e influenciou sobremaneira o desenvolvimento das artes marciais, sob os valores da classe guerreira. Naquele momento, o clã Satsuma introduziu sua própria disciplina, o Jigen-ryu.

 

Antes das influências chinesas e nipônicas, já existia uma espécie de luta desarmada e nativa de Okinawa, que era praticada abertamente, chamada de Mutô, cujo embate começava com empurrões muito parecidos com os de Sumô, depois, seguindo-se com aplicação de golpes de arremesso e torção. Vencia o combate àquele que derrubasse ou submetesse o adversário. Era uma prática cujo fito mor era recreativo, mas que, segundo alguns autores e mestres, teria sido a semente do Karate, que foi então paulatinamente sendo moldado e modificado sob as influências do boxe chinês (Kenpo).

 

Em meados do século XVII, uma arte marcial desenvolvida em Okinawa sem armas já era estabelecida, sendo conhecida por " – Tê ou Ti". Também é referida como a arte das mãos de Okinawa, 沖縄手 - Okinawa-te, em Okinawa no dialeto local também era conhecido como: Uchinaadi, quando surgiu a figura de Matsu Higa, renomado mestre de Te e perito em Kobudo e também expert no estilo chinês de Kenpo Chuan Fa, que teria aprendido com mestres chineses. Mas já nesse tempo, a arte marcial já vinha evoluindo em três formas distintas, radicadas nas três cidades que as nomearam, Naha-te, Tomari-te e Shuri-te.

 

Acredita-se que Sensei Matsu Higa tenha sido dentro de seu estilo próprio, o primeiro a estabelecer um conjunto formal de técnicas e chamá-lo de Te.

 

A principio destacaram-se mais os estilos de Shuri, por ser a capital, e de Naha, por ser uma cidade portuária e mais importante entreposto comercial de Okinawa. Entretanto, posto que tivesse menor relevo no cenário da época, por ser, normalmente uma cidade de trabalhadores, pescadores e campesinos, Tomari, devido à exatamente suas características, desenvolveu o estilo peculiar e muitas vezes erradamente confundido com o estilo de Shuri. Ademais, em que pese cada um das cidades ter seu estilo próprio, elas compartilhavam informações entre os praticantes.

 

Na linhagem do estilo shuri-te, caracterizado pelas posturas corporais naturais e por movimentos lineares de deslocamento e de golpes, seguiram-se a Sensei Matsu Higa, mais ou menos numa linha de mestre e aprendiz, e os mestres Peichin Takahara, Kanga Sakukawa e Sokon Matsumura.

 

Com mestre Takahara, já por influência japonesa, o Te vem a receber os três princípios que culminariam com a transformação da técnica numa disciplina muito maior já na transição do século XIX para o século XX.

 

Ainda no século XVII, o Te sofria fortes influências desde a China. Mestre Sakukawa, por sugestão de Peichin Takahara, foi aprender com um mestre Chinês conhecido como Kushanku, mestre de Kenpo Chuan Fa, diretamente no continente. Tais características não passaram despercebidas e calharam em que a arte marcial passou a se chamar 唐手 - Tode ou Todi (mão chinesa), ou ainda 徒手空拳 - Toshukuken e ou 徒手術 - Toshu-jutsu.

 

Enquanto isso, em Tomari, seu estilo adquiria uma característica mais acrobática. Os principais expoentes da região foram os mestres Karyu Uku e Kishin Teryua, que deixariam seu legado a Kosaku Matsumora. Em Naha, o Te evoluía numa direção diversa, com movimento de extrema contração, golpes de curto alcance e condicionamento do corpo para absorção de golpes, tudo conjugado a técnicas de respiração (Ibuki).

 

Sob o período de Sokon Matsumura, o Tode passou a ter um treinamento mais formalizado com a compilação de uma série mais ou menos fechada de katas e, principalmente, rompeu-se a barreira das classes sociais. Com Matsumura, que fazia parte da elite guerreira e da corte de rei Sho Ko e sucessores, o Tode, praticado, normalmente pelas classes trabalhadoras, passou a ser uma arte militar reconhecida.

 

Por essa época, ficaram famosos, e quase lendários, os contos sobre as proezas dos artistas marciais de Okinawa, como as do mestre de Tomari-te, Kosaku Matsumora, que desarmado derrotou um Samurai. Assim, o Te era conhecido também por 神秘 唐手 - Shimpi Tode (misteriosa mão chinesa) ou霊妙 唐手 - Reimyo Tode (etéreo-miraculosa mão chinesa).

空手 の 歴史 - KARATE NO REKISHI (A HISTÓRIA DO KARATÊ)


 空手 – Karate ou 空手道 - Karatê-do é uma arte marcial japonesa desenvolvida a partir de um tipo de arte marcial indígena de Okinawa, sob influência das artes da guerra chinesas (Kenpo Chuan Fa e entre outras), das lutas tradicionais japonesas (Koryu) e das disciplinas guerreiras japonesas (Budô).

 A influência chinesa foi maior inicialmente durante o desenvolvimento, variando de um paradigma primitivo de uma simples luta com alguns agarrões e projeções, para um modelo com mais ênfase em golpes traumáticos, e se fez sentir nas técnicas dos estilos mais fluidos e pragmáticos da China meridional. Depois, devido a alterações geopolíticas, sobreveio à predominância das disciplinas de combate do Japão e, nesse período, o modelo tendeu a simplificar ainda mais os movimentos, tornando-os mais diretos e eliminando o que não seria útil ou que fosse apenas um floreio.

 O repertório técnico da arte marcial Karate abrange, principalmente, golpes contundentes nos pontos vitais Atemi Waza, como: chutes, socos, joelhadas, bofetadas, etc., executadas com as mãos desarmadas. Todavia, técnicas de projeção, imobilização e bloqueios Nage Waza, Katame Waza, Uke Waza — também são ensinados, com maior ou menor ênfase, dependendo de qual estilo ou escola se aprende a arte.

 Afirma-se que a evolução desta arte marcial Karate aconteceu orientada por renomados mestres, resultando no Karate moderno, cujo trinômio básico de aprendizado divide-se em:

·       Kihon (técnicas básicas)

·       Kata (sequência de técnicas, simulando luta com várias aplicações práticas).

·       Kumite (enfrentamento propriamente dito, que pode ser mero simulacro ou dar-se de maneira esportiva ou competitiva ou mais próxima da realidade).

 

Esse processo evolutivo também mostra que a modalidade surgida como se fosse uma única raiz acabou por se dividir em três partes e, por fim, tornou-se uma miríade de diversas variações sobre um mesmo tema.

O estágio da transição entre os séculos XX e XXI revela que a maioria das escolas de Karate tem dado ênfase à evolução do condicionamento físico, desenvolvendo velocidade, flexibilidade e capacidade aeróbica para participação de competições de esporte de combate, ficando relegada àquelas poucas escolas tradicionalistas a prática de exercícios mais rigorosos, que visam o desenvolvimento da resistência dos membros, e de provas de quebramento de tábuas de madeira, tijolo ou gelo. De um modo simples, há duas correntes maiores: uma tendente a preservar os caracteres marcial e filosófico do Karate; e outra, que pretende firmar os aspectos esportivo e lúdico.

 A partir do primeiro quarto do século XX, o processo de segmentação instalou-se de vez, aparecendo diversos locais de treino e estilos, até alguns dentro dos outros, pretendendo difundir seu modo peculiar de entender e desenvolver o Karate, a despeito de compartilharem semelhanças técnicas e de origem. Tal circunstância, que foi combatida por mestres de renome, acabou por se consolidar e gerar como consequência a falta de padronização e entendimento entre entidades e praticantes. Daí, posto que aceito mundialmente como esporte, classificado como esporte olímpico e participando dos Jogos Pan-Americanos, não há um sistema unificado de valoração para as competições, ocasionando grande dificuldade para sua aceitação como esporte presente nos Jogos Olímpicos.

 Em que pese a enorme fragmentação de estilos, procura-se ainda seguir um modelo pedagógico mais ou menos comum. E neste ambiente, distingue-se o mero praticante daquele estudioso dedicado à arte marcial, o Karateca (como é chamado o praticante de Karate), o qual busca desenvolver uma disciplina rigorosa, filosofia e ética, além de aprender os mais simples movimentos e condicionamento físico. Nessa mesma linha, aquele Karateca que alcança o grau de faixa preta é denominado de Sensei. E os locais de aprendizado são chamados de Dojo, sendo estes, via de regra, filiada a alguma linhagem ou estilo.

 Quando se trata de estudar as origens das artes marciais, é importante constatar de pronto que é impossível estabelecer ou identificar qual o momento exato em que surgiu, e o máximo que se pode fazer são conjecturas a partir do ambiente sociocultural em que se desenvolveu, traçando uma linha de acontecimentos mais ou menos coerente, haja vista que alguns aspectos de uma arte marcial (algumas técnicas e/ou personagens) têm uma origem bem conhecida ou documentada, porém, o conjunto não se fecha se não se incluírem outras fontes, como relatos e historias. O que se sabe é que todos os povos que se organizaram em sociedade possuem alguma forma de defesa, isto é, pelo menos possuem uma força armada, pois os ajuntamentos de pessoas eventualmente entravam em choque, por recursos naturais ou outros motivos.

 Naturalmente, seguindo uma linha evolutiva mais ou menos uniforme, tal como aconteceu com a agricultura, a pesca, a música e outras atividades, as artes marciais desenvolveram-se como disciplina, surgindo mestres e aprendizes. Isso, por exemplo, pode ser demonstrado pela existência das falanges gregas, modelo que se impôs por certo tempo, até ser superado pelas formações romanas, e assim anterior e sucessivamente.

 Da Grécia, vem outro exemplo de desenvolvimento das artes marciais como disciplina. As cidades-estados (ou Polis) disputavam a supremacia sobre as demais, pelo que apareceram os períodos Atenienses, Espartano, Tebano e etc. Dentro de tais circunstâncias, somente em Esparta as disciplinas militares tiveram relevo, eis que naquele ambiente foi dado destaque ao desenvolvimento físico, para fazer frente aos embates e os cidadãos Espartanos (Esparciatas) treinavam de maneira forte tanto a luta armada como a desarmada.

 Em se tratando de luta desarmada, no ambiente helênico desenvolveu-se a arte marcial do Pancrácio, que teria surgido por volta do século VII AC ou antes e cujo arcabouço técnico englobaria os mais variados movimentos e golpes, desde socos a estrangulamentos. Como esporte sabe-se ter feito parte dos Jogos Olímpicos naquela época.

Caminhando já na Ásia, onde se acredita ser o berço das artes marciais modernas, sabe-se que o exército de Alexandre Magno enfrentou guerreiros de várias origens, como de China e Índia. É impossível creditar o desenvolvimento das artes marciais asiáticas ao contato com os gregos, pois logicamente existiam já naquelas paragens suas próprias disciplinas, tanto é que se deu enfrentamento entre exércitos e não de um exército e pessoas desarmadas. Refiro-me ter havido certamente a troca de conhecimentos, o que era inevitável, após a estabilização das relações. De qualquer forma, havia na Índia uma forma de luta chamada de Vajramushti, a qual parece ter sido transmitida a outros países ou mesmo comunidades, no processo de trocas culturais na Ásia.

 Posto que se diga tratar mais de especulações, diante da lacuna documental e de que, mesmo existindo algum documento, se tratam de coletâneas de relatos, lendas ou historias, de fato, as artes marciais passaram a ter caracteres mais formais quando um monge budista indiano chamado Bodhidharma — o primeiro grande Mestre —, por volta do ano 520 D.C., no fito de empreender uma longa jornada em busca de iluminação espiritual, viajou desde a Índia até a China. O monge ficava onde lhe dessem abrigo, em templos ou casas, e aproveitava para evangelizar de acordo com sua doutrina.

 Sua jornada o teria levado até o Templo Shaolin e, quando Bodhidharma viu as condições físicas precárias em que se encontravam os monges daquele lugar, exortou-os no sentido que a pessoa deveria evoluir por completo, desenvolvendo o lado espiritual, mas sem esquecer-se do físico, pelo que instruiu todos na prática de exercícios que havia aprendido na Índia.

 A prática dos exercícios evoluiu para um sistema de defesa pessoal, até com o uso de armas e outros instrumentos, fazendo surgir uma reputação de que os monges lutadores seriam experts em diversas modalidades e formas de combate, pelo que se difundiu por toda a China. Os monges de Shaolin não se isolaram apenas na China e levaram seus conhecimentos religiosos, filosóficos e marciais para outros recantos, entre estes o Japão e a Coréia.