Os
esforços de Itosu, a despeito de não gerarem os efeitos almejados, frutificaram
nas mãos de seus alunos. Por exemplo, o Mestre Kenwa Mabuni, como forma de
tributo, sistematizou todos os ensinamentos aprendidos no estilo Shito-ryu, que
pretende fundir os estilos Shuri-te e Naha-te e com isso veio a preservar
muitas variações de kata; o Mestre Choshin Chibana, em seu tempo, compilou seu
conhecimento no estilo Kobayashi-ryu, pretendendo preservar as exatas formas
por ele aprendidas de Matsumura e Itosu.
Entretanto,
aproveitando o interesse no Karate, principalmente depois da vitória do mestre
Choki Motobu sobre o lutador russo, coube a Gichin Funakoshi lograr grande
êxito no objetivo do mestre Itosu, isto é, difundir o Karate como desporto e
nativo da cultura japonesa. Fundamental também foi o empenho de outros grandes
mestres, como Mabuni, Miyagi, Motobu etc., que não podem ser considerados no
arrabalde. Esses esforços não podem ser olvidados porque criaram a ambiência em
que Funakoshi logrou êxito em difundir o Karate pelo arquipélago japonês. As
técnicas do estilo iniciado por Funakoshi baseiam-se no Karate de Itosu, mas
dando mais ênfase ao aspecto formativo da personalidade, característica que
ficou impressa nas demais linhagens surgidas naquele momento.
A
divulgação não aconteceu sem resistência. A despeito de vários pedidos para a
não exibição de vários mestres que não viam com bons olhos o movimento,
Funakoshi levou o Karate até o sistema público de ensino, com a ajuda de seu
mestre Anko Itosu e, em pouco tempo, a arte marcial já fazia parte do currículo
escolar como disciplina físico-esportiva, dando um impulso extraordinariamente
grande, com o Karate sendo praticado em vários locais e sendo bastante
apreciado e valorizado localmente.
Entre
1902 e 1915, Sensei Funakoshi viajou com seus melhores alunos por toda Okinawa realizando
demonstrações públicas de Karate e calhou de o inspetor de Educação do
conselho, Shintaro Ogawa, estava particularmente interessado no processo
seletivo para ingresso nas forças armadas, preocupado em obter um bom grupo,
composto por jovens de boas índoles (valores) e boa compleição. Ogawa ficou impressionado,
que escreveu ao continente dando as novas.
Sucedeu
de o almirante Rokuro Yashiro assistir a uma daquelas demonstrações, explicadas
por Funakoshi, enquanto seus alunos executavam kata, quebravam telhas e faziam
outras proezas, que expunham a eficácia do condicionamento físico. O almirante
ficou muito impressionado e ordenou que seus homens que iniciassem o
treinamento de imediato. Sucedeu também de, em 1912, a comando de o Almirante
Dewa escolher doze de seus homens para treinarem Karate por uma semana,
enquanto estivessem ancorados nas imediações. As novas levadas por esses dois
oficiais levaram o Karate a ser mais comentado no Japão.
E
no desenrolar dos acontecimentos, calhou de, em 1921, o então príncipe herdeiro
e futuro imperador Hirohito assistiu a uma dessas demonstrações, pelo que ficou
admirado e pediu a feitura de um evento nacional em Tóquio, realizado em 1922.
O evento foi muito bem sucedido e ocasionou de o mestre Funakoshi ser coberto
de convites para apresentar sua arte e um desses convites foi feito por Jigoro
Kano, para ser feito no instituto Kodokan.
Durante
o evento, que levantou a plateia, mestre Funakoshi foi convencido a permanecer
no Japão e, com a ajuda de Jigoro Kano, de que se tornou amigo íntimo, o Karate
foi difundido.
O
mestre sabia que haveria de surgir enorme oposição, haja vista que naquele
período da história das relações entre Japão e China não era dos melhores.
Ainda era muito recente a lembrança da Primeira Guerra Sino-Japonesa
(1894–1895). E até o fim da Segunda Guerra Mundial e da Segunda Guerra
Sino-Japonesa, com a rendição do Japão perante os Aliados, ocorreram vários
incidentes belicosos.
Tais
circunstâncias levavam à conclusão de que uma arte marcial de origem chinesa
seria certamente repudiada, pelo que a mudança da arte para o 空手道 - Karate-Do (caminho das
mãos vazias), isto é, com o acréscimo do sufixo “Do”, como se deu com muitas
das artes marciais praticadas no Japão. A partícula do significa caminho,
palavra que é análoga ao familiar conceito de Tao. Daí que o Karate deixou de
ser encarado apenas em seu aspecto técnico, ou Jutsu, para serem realçados o
filosófico e o físico (educacional).
Por
outro lado, o Karate beneficiou-se de uma perspectiva que existia, a de que a
luta nativa de Okinawa, aí incluso o seu Kobudo (manipulação de armas), era
simplesmente uma forma de Jujutsu ou Koryu. Assim se pensava porque tanto os
vários estilos de Jujutsu (a exemplo de Takenouchi-ryu, Daito-ryu etc.)
japoneses quanto o Okinawa valiam-se das mesmas formas técnicas (luta
desarmada, principalmente), diferenciando-se apenas no foco e no treinamento,
ou seja, nada de estranho, se comparado à tradição Samurai. Denominava-se o Karate
de Tejutsu, o que reforçava esse aspecto.
Entrementes,
a proposição de Mestre Itosu, pela escrita do nome da arte marcial como Karate-Do
foi objeto de debate em 1936, e mestres na época acordaram que seria a melhor
escolha, o que refletira a unidade do Karate e sua originalidade, posto que
houvesse sofrido diversas influências de fora.
Do
modo como se desenvolveu, um elemento da cultura japonesa, o Karate está imbuído de certos elementos do
Zen-budismo, sendo que sua prática algumas vezes é chamada de "zen em
movimento". As aulas frequentemente começam e terminam com curtos períodos
de meditação. Também a repetição de movimentos, como a executada no kata, é
consistente com a meditação zen pretendendo maximizar o autocontrole, a
atenção, a força e velocidade, mesmo em condições adversas. A influência do zen
nesta arte marcial depende muito da interpretação de cada instrutor.
Devido
aos esforços de Funakoshi o Karate passou a ser ensinado nas universidades de
Shoka, Takushoku, Waseda e Faculdade de Medicina.
A
modernização e sistematização do Karate no Japão também incluiu a adoção do
uniforme branco (Kimono ou Karate Gi) e de faixas coloridas indicadoras do
estágio alcançado pelo aluno, ambos criados e popularizados por Jigoro Kano,
fundador do judô.
As
contribuições de Jigoro Kano não se limitam ao uniforme de treinamento e à
padronização das graduações, mas vão até as técnicas, que foram compiladas
dentro do estilo Shotokan. O conceito de do, posto que presente haja muito
tempo, foi de certa forma reinterpretada segundo suas ideias.
Depois
que Funakoshi demonstrou o Karate, outros mestres de Okinawa seguiram pela
mesma trilha e se foram, no fito de conseguir novos alunos e divulgar ainda
mais. Um daqueles mestres era Kenwa Mabuni, que se fixou em Osaka e, no ano de 1931, criou a Dai-Nihon
Karate-do Kai, para dar apoio a seu estilo, que foi registrado, primeiro como
Hanko-ryu, e, depois, Shito-ryu.
Entrementes,
somente durante a década de 1930 foi que a Associação Japonesa de Artes
Marciais, Butoku-kai, reconheceu oficialmente o caratê como arte marcial
nipônica e requereu que todas as escolas fizessem registro na entidade,
exigindo para esse registro que cada uma delas indicasse os nomes de seus
estilos.
Em maio de 1949, alguns discípulos de
Funakoshi criaram uma associação cujo escopo principal seria a promoção do
caratê. O nome dado foi 日本 空手 協会 - Nihon Karate Kyokai (Japan
Karate Association - JKA, Associação Japonesa de Karate), e o primeiro
presidente foi Saigo Kichinosuke, membro da Câmara Alta do Japão, neto de Saigo
Takamori (o ultimo samurai), um dos maiores heróis do Japão Meiji.
Durante
a Segunda Guerra Mundial, o Karate tornou-se popular na Coreia do Sul sob os
nomes Tangsudo ou Kongsudo quando a pratica do Tae-kwon-do foi proibida pelos
japoneses após sua invasão.
Após
a Segunda Guerra Mundial, o mestre Funakoshi com seus alunos conseguiram que o
Ministério da Educação classificasse o Karate como educação física e não como
arte marcial, tornando possível seu ensino, durante a ocupação do Japão. Depois
dos Estados Unidos o caratê foi difundido pela Europa e o mundo.
ATUALIDADES
Posto
que mestre Funakoshi pregasse que o Karate era uma arte marcial única, que as
variações nas formas, nos estilos, deviam-se precipuamente às idiossincrasias e
que jamais denominou sua linhagem de estilo, ainda durante sua existência e
persistindo até os dias atuais, o que sucedeu foi uma proliferação de estilos,
escolas e linhagens diferentes.
A
grande variedade de estilos e escolas, se por um lado facilita essa
disseminação, por outro, causou enormes dissensões e cisões entre entidades e
representantes. Muitas vezes, o que motivou a cisão foram disputas políticas
e/ou ideológicas.
Depois
de criada por discípulos de Funakoshi, a quem aclamaram como líder, em 10 de
abril de 1957, a JKA ganhou a condição de entidade oficial, mas, cerca de duas
semanas depois, o grande mestre faleceu com a idade de 89.
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